terça-feira, 3 de agosto de 2010

JOHNNY PECOS / DJANGO

Os filmes de faroeste, embora hoje em dia estejam em franca decadência, sempre encantaram gerações passadas, e é claro que os roteiristas e ilustradores de HQs não estariam de fora desta – exemplo marcante até hoje é o Tex da Bonelli Editore, que, mesmo com o descaso (e até mesmo aversão) que o gênero western vem angariando nos últimos tempos, ainda mantém relevante popularidade entre os fãs das Histórias-em-Quadrinhos, e em especial no Brasil, onde continua sendo, disparado, o gibi mais vendido nas bancas, deixando para trás toda baboseira marvel, dc, vertigo e outras porcarias.
E em nosso país é também marcante a presença de personagens de faroeste criados por artistas patrícios. Um estilo que não faz parte de nossa História, mas certamente faz parte de nossa cultura, haja vista que filmes, seriados e HQs de faroeste sempre fizeram grande sucesso entre nós, durante as décadas em que o western era o gênero preferido das multidões. E isso se reflete até os dias de hoje, com os dvds, os fã-clubes, os fanzines, e até mesmo nos gibis, haja vista a nova empreitada de Tony Fernandes com sua Apache – e mesmo deste humilde escriba, em O Bom & Velho Faroeste, gibi com história de far-west com arte notável de Adauto Silva.
Um bom exemplo do fascínio exercido pelo faroeste em nossos quadrinhistas foi o ousado projeto da Editora D-Arte de Rodolfo Zalla, na década de 80 do século passado: Johnny Pecos. Zalla, oriundo da Argentina (país que também conta, em sua história editorial das HQs, com uma variada gama de personagens de faroeste), bancou revista em formato europeu com 48 páginas (quase todas em cores) que contou com a participação de grandes nomes dos Quadrinhos Brasileiros tais como Eugênio Colonnese, Gedeone Malagola, Luís Meri, Rubens Cordeiro, entre outros. O personagem-título Johnny Pecos é uma criação de Jota Laerte (roteiro) e Rodolfo Zalla (desenhos). Pecos é um mestiço da fronteira, meio estadunidense e meio mexicano, que tem a noiva e o sogro cruelmente assassinados por bandoleiros bêbados. Mesmo sendo bem sucedido em sua vingança, ele sabia que sua vida estava mudada para sempre: tornara-se um viajante solitário, percorrendo desertos e pradarias entre facínoras e federales, sempre pronto a defender aqueles que se encontram em desvantagem.
As histórias de Johnny Pecos, além da dose indispensável de tiros e pancadaria, também mostravam as angústias dos personagens, humanizando-os. E os desenhos de Mestre Zalla dispensam maiores comentários, especialmente entre aqueles que já se tornaram calejados apreciadores da HQB. Apesar de todo capricho e talento dos envolvidos, Johnny Pecos durou somente 4 números – naquela época, o western já perdera muito de seu prestígio entre o grande público, vitimado que foi pela militância politicamente correta, de modo que Zalla e seus parceiros passaram então a se dedicar aos Quadrinhos macabros com Calafrio e Mestres do Terror, dois grandes sucessos por mais de uma década. Nos anos 90 a Editora Noblet chegou a lançar um gibi de Johnny Pecos, re-editando HQs publicadas pela D-Arte.
De modo geral, os artistas brasileiros dos Quadrinhos que se aventuraram no gênero faroeste, pareciam mais inspirados nos filmes de bang-bang feitos na Itália, do que nos originais estadunidenses. Exemplo marcante disso, da influência do spaghetti-western em HQs brasileiras, pode ser visto num personagem que teve duas HQs publicadas no antológica Johnny Pecos, da Editora D-Arte (mais especificamente, nos número 3 e 4) – personagem que levava o nome de um dos mais famosos filmes italianos de faroeste: Django (interpretado no cinema pelo ator Franco Nero). Com roteiros de Luis Meri e desenhos de Rodolfo Zalla, o que mais chamou a atenção nas aventuras de Django foi seu inimigo, um fanfarrão de nome Pancho – tipo aliás muito recorrente nos bang-bangs italianos, uma caricatura do que teria sido o “general” Pancho Villa, o sanguinário revolucionário mexicano que aterrorizava mexicanos e estadunidenses da fronteira (chegou até a invadir e saquear a cidade de Durango), na primeira década do século XX. Já este Pancho do gibi, praticamente morto na aventura publicada no número 3 de Johnny Pecos, retorna cheio de vida no número seguinte, onde mais uma vez é colocado à beira da morte. Mas quem “morreu”, infelizmente, foi mesmo a revista do Johnny Pecos, uma pena.

Nenhum comentário:

Postar um comentário