Diário de Guerra n.7 traz belíssima capa de Rubens Cordeiro, e começa com “O Grande Covarde”, escrita por Milton Mattos e desenhada pelos irmãos Edno e Edmundo Rodrigues (o notável autor de Jerônimo Herói do Sertão, entre tantos outros personagens em Quadrinhos). No confronto com os alemães, um soldado da FEB angariava forte antipatia dos oficiais e dos colegas, pois se mostrava como um fervoroso cristão e por isso se recusava a tirar a vida de outrem. Ganhou o apelido de “Bíblia”, pois vivia citando os versículos sagrados aos companheiros, mesmo diante de fogo cerrado. Mas, quando a “cobra vai fumar” (o lema dos combatentes em ação), “Bíblia” surpreende pela impetuosa coragem - e sempre agindo como deve agir um bom cristão. Os irmãos Rodrigues se destacam por mostrar nas HQs um estilo que se assemelha ao do mestre Joe Kubert. Segue o número 7 com memorável HQ escrita e desenhada por Rodolfo Zalla, chamada “O Equilibrista”, que aborda um tema comum à FEB: a diversidade dos pracinhas, não só regionais mas também nos ofícios & profissões dos soldados que formavam as tropas. Aqui, um telefonista e um equilibrista de circo é quem vão tentar resolver a parada, cortando fios que eram essenciais para as comunicações entre os inimigos. Esta HQ foi republicada anos depois, já na década de 1980, num gibizão da Editora Ninja de Fernando Mendes, Pelotão Suicida (que é, a propósito, o nome de outro gibi de guerra contemporâneo do Diário de Guerra, mas lançado por outra editora, a Jotaesse). A sétima edição se encerra com chave-de-ouro, com outra notável HQ da dupla Paroche-Zalla: “Santa Maria Villiana”, onde o próprio Paroche é o narrador, lembrando um episódio ocorrido realmente, uma batalha em destroçada cidade italiana onde o roteirista e ex-pracinha perdeu muitos de seus colegas, e muitos alemães perderam a vida também - mas nem o bombardeio conseguiu destruir a imagem da Santa Maria. Pode-se “acusar” esta HQ de ser amargurada e pessimista, mas não foram estes os sentimentos predominantes durante os conflitos? É perfeitamente compreensível que um participante, em espectador vivo e presente daqueles tristes acontecimentos, traga em seu coração algumas mágoas, alguns traumas, sentimentos e lembranças muito difíceis de se lidar.sábado, 29 de janeiro de 2011
DIÁRIO DE GUERRA - A FEB EM QUADRINHOS
Diário de Guerra n.7 traz belíssima capa de Rubens Cordeiro, e começa com “O Grande Covarde”, escrita por Milton Mattos e desenhada pelos irmãos Edno e Edmundo Rodrigues (o notável autor de Jerônimo Herói do Sertão, entre tantos outros personagens em Quadrinhos). No confronto com os alemães, um soldado da FEB angariava forte antipatia dos oficiais e dos colegas, pois se mostrava como um fervoroso cristão e por isso se recusava a tirar a vida de outrem. Ganhou o apelido de “Bíblia”, pois vivia citando os versículos sagrados aos companheiros, mesmo diante de fogo cerrado. Mas, quando a “cobra vai fumar” (o lema dos combatentes em ação), “Bíblia” surpreende pela impetuosa coragem - e sempre agindo como deve agir um bom cristão. Os irmãos Rodrigues se destacam por mostrar nas HQs um estilo que se assemelha ao do mestre Joe Kubert. Segue o número 7 com memorável HQ escrita e desenhada por Rodolfo Zalla, chamada “O Equilibrista”, que aborda um tema comum à FEB: a diversidade dos pracinhas, não só regionais mas também nos ofícios & profissões dos soldados que formavam as tropas. Aqui, um telefonista e um equilibrista de circo é quem vão tentar resolver a parada, cortando fios que eram essenciais para as comunicações entre os inimigos. Esta HQ foi republicada anos depois, já na década de 1980, num gibizão da Editora Ninja de Fernando Mendes, Pelotão Suicida (que é, a propósito, o nome de outro gibi de guerra contemporâneo do Diário de Guerra, mas lançado por outra editora, a Jotaesse). A sétima edição se encerra com chave-de-ouro, com outra notável HQ da dupla Paroche-Zalla: “Santa Maria Villiana”, onde o próprio Paroche é o narrador, lembrando um episódio ocorrido realmente, uma batalha em destroçada cidade italiana onde o roteirista e ex-pracinha perdeu muitos de seus colegas, e muitos alemães perderam a vida também - mas nem o bombardeio conseguiu destruir a imagem da Santa Maria. Pode-se “acusar” esta HQ de ser amargurada e pessimista, mas não foram estes os sentimentos predominantes durante os conflitos? É perfeitamente compreensível que um participante, em espectador vivo e presente daqueles tristes acontecimentos, traga em seu coração algumas mágoas, alguns traumas, sentimentos e lembranças muito difíceis de se lidar.sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
OS CONQUISTADORES
No ano de 1969 a Gráfica & Editora Penteado (GEP) lançava nas bancas um gibi especial chamado Os Conquistadores, apresentando aventura em HQ com o personagem Antônio de Almeida Lara. A ação transcorre no ano de 1700, narrando enredo fictício mas que demonstra o bom conhecimento da História que tem o roteirista, ele que aparece muito bem acompanhado por um ilustrador que apresenta brilhantemente cenários & personagens. Poucas informações pude encontrar a respeito dos autores. Na capa há uma assinatura dupla: Andy e Raposo. Tudo indica ser Andy o roteirista, e Raposo o ilustrador. Ou terá sido Andy o ilustrador, e Raposo o artefinalista? Ou ainda, seria Raposo um pseudônimo (aproveitando o nome do famoso bandeirante, Raposo Tavares)? Tive a chance de consultar mestre Gedeone Malagola, que por ocasião do lançamento de Os Conquistadores era diretor artístico da GEP. Gedeone relembra que os autores entregaram o material e sumiram sem mais dar notícias, e não voltaram à editora nem mesmo para receber o pagamento (Gedeone confirma que a revista vendeu muito bem). Uma pena, e infelizmente, não é o único exemplo de talentosos autores brasileiros das HQs que abandonam a estrada antes do meio do caminho...

Quanto ao referido personagem principal deste gibi, Antônio de Almeida Lara é um bon vivant da vila de São Paulo, gastando a herança que recebeu de seu pai, renomado bandeirante, em farras e bebedeiras. Até o dia em que o dinheiro finalmente se esvai e, para ajudar sua mãe, Lara decide dar fim à boa vida e parte de encontro à bandeira de seu tio Fernão de Albuquerque, que buscava ouro se embrenhando no sertão paulista. A partir daí são incontáveis os perigos e as aventuras que atravessam o caminho do rapaz, fazendo desta esquecida HQ um pequeno clássico. Antônio de Almeida Lara se depara com todo tipo de perigo, especialmente animais selvagens: onça pintada, porcos bravios, sucuri, lobo guará... encontrando o tio, este se mostra severo porém justo, e bota o sobrinho para trabalhar duro. Outro que alcançou a bandeira e acabou se tornando amigo de Lara é o negro Angola, fugido de seus donos, inconformado por ter sido separado de sua amada companheira. Além dos perigos da mata, os homens da bandeira de Fernão Albuquerque ainda têm que enfrentar facínoras saqueadores, que desejam tomar na mão grande todo ouro exaustivamente garimpado pelo grupo bandeirante. Após terrível batalha, os bandidos conseguem ser detidos. Na segunda parte da “Saga de Lara”, o herói percorre o trajeto de volta pra casa junto de seu novo escravo-parceiro, o negro Angola (por quem se afeiçoou e admira a coragem). No caminho encontram Pedro, caçador de ouro que havia sido abandonado e traído por seu grupo. Os três passam então a enfrentar novos perigos, até o regresso ao lar dos Lara, onde Antônio pôde enfim abraçar sua mãe e dar o dinheiro ganho com tanto sacrifício na bandeira. Infelizmente Os Conquistadores ficou nesta única edição.


sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
JUVÊNCIO, O JUSTICEIRO
Um dos personagens mais populares dos comics em todos os tempos, The Lone Ranger (batizado no Brasil como Zorro) teve origem num programa radiofônico. O Brasil também teve sua versão do Lone Ranger, e que, tal qual seu similar norte-americano, originou-se num programa de rádio, criação de Reinaldo dos Santos: Juvêncio, O Justiceiro. Quem emprestou a voz a Juvêncio foi Vicente Lia. E, se o Zorro tinha um parceiro (como tinham parceiros quase todos os heróis de outrora), o famoso Tonto que em nossa língua possibilitou uma série de piadas e trocadilhos infames, nosso Juvêncio não poderia ficar para trás, e vivia aventuras ao lado do jovem Juquinha – que nas rádios era ouvido através da voz de Wanderley Cardoso, cantor em atividade até os dias de hoje. Graças ao grande sucesso do programa de rádio, a Editora Prelúdio Ltda. passou a lançar as aventuras de Juvêncio em HQs, com revista própria (em fomatinho) a partir da década de 60 do século passado, e que teve ao menos duas dezenas de números. Nalgumas capas vocês podem ler as palavras "páginas coloridas", mas não eram exatamente coloridas como nos acostumamos a ver, mas sim um tom que chamamos de sépia, ou duas cores, em tons de vermelho. Grandes argumentistas e ilustradores dos Quadrinhos brasileiros mostraram seu talento nas páginas de Juvêncio, O Justiceiro: os roteiros ficaram a cargo de Rubens Francisco Luchetti, Gedeone Malagola, Helena Fonseca, Fred Jorge (houve também textos para os quadrinhos escritos por Reinaldo dos Santos), e o desenharam Sérgio Lima, Rodolfo Zalla, José Acácio dos Santos e Eugênio Colonnese. Apesar do evidentemente inspirado no faroeste americano, seus autores se esforçaram em adaptar as aventuras do mascarado para cenários e ambientes brasileiros, mais especificamente em pequenas cidades nordestinas, mostrando os heróis cavalgando pela caatinga e enfrentando cangaceiros.





