HERÓIS EM AÇÃO



ZHOR O ATLANTA

Confesso que, quando encontrei, há uns 10 anos atrás, escondido entre uma pilha de gibis, esse raro exemplar de Zhor, O Atlanta, uma polpuda edição de 92 páginas lançada pela Editora Taíka (não consta no gibi a data específica de lançamento, mas tudo indica ser da virada das décadas 60/70 do século passado), eu jamais ouvira falar deste personagem. Mesmo assim, na ocasião me interessei em resgatar essa raridade, a começar pela linda capa de Walmir Amaral. Evidente que o nome do personagem visa “embarcar” na popularidade do mais famoso Thor, versão de Stan Lee & Jack Kirby – e isso era prática constante no mercado editorial do período, lembremo-nos do que nos disse o mestre Rodolfo Zalla, a respeito do Targo, a versão brasileira do Tarzan: nas prateleiras das bancas, pelo fato da segunda sílaba de Targo vir encoberta, escondida por outra publicação qualquer, muitos leitores desatentos pegavam a revista (e a compravam) pensando se tratar de uma revista do Tarzan – e muito provavelmente só percebiam isso quando chegavam em casa...
De qualquer forma, vale o registro de que Zhor é mesmo um personagem fascinante, que infelizmente teve apenas três histórias publicadas nesta edição da Taíka. Se tivesse sido criado nos EUA, provavelmente teria vida editorial muito mais longa. Criado por Francisco de Assis P. da Silva, Zhor é um guerreiro e líder da lendária Atlântida, construída pelo autor a partir de elementos historicamente comprovados nas diversas civilizações da antiguidade, notadamente grega, inca e hindu. A Atlântida de Francisco de Assis da Silva ergue-se e desaba segundo os registros de relatos dos grandes homens daquelas sociedades, de compilações religiosas diversas, e da assombrosa suspeita de intervenção extraterrastre naqueles povos. Além deste apurado senso de historiador, e de um fascinante lirismo mitológico, o autor Francisco se mostra um ágil e vibrante roteirista de HQ. As aventuras de Zhor possuem grande influência das Era de Ouro dos comics – tanto que, muito mais do que o Thor de Lee & Kirby, nosso Zhor se assemelha muito mais a outro e mais antigo personagem, o notável Flash Gordon de Alex Raymond.

A primeira HQ publicada neste gibizão chama-se “Guerra Contra Os Lemurianos”, escrita por Francisco de Assis da Silva e ilustrada pelo incansável Walmir Amaral de Oliveira, apresenta aos leitores a sociedade atlantiana, e então nos mostra seu guerreiro máximo, o Arconte Polemarcho, Zhor! Que se descontrai das penosas obrigações do reino caçando javalis – e, pouco após matar um enfurecido suíno, é atacado por um mini-dinossauro, que Zhor rechaça com pistola de raio laser. Após ser informado de que os lemurianos, uma nação inimiga, estavam mandando tropas para invadir Atlântida, Zhor parte de volta em seu disco-voador (chamado Vimana) para chegar mais rapidamente à sala de reuniões onde, frente ao senado e a assembléia popular, sentindo-se o herdeiro do deus Marte, o Arconte proclamará triunfalmente a guerra, sob eufórico consentimento popular, vindo da multidão que grita incessantemente: “Guerra! Guerra! Viva a Atlântida”! As páginas seguintes mostram os desfiles e as manobras militares, e especialmente, em detalhes, movimentos e estratégias de batalhas, ação desenfreada que faz desta empolgante HQ estilo medieval sci-fi, um digno & esquecido épico da antologia brasileira de Quadrinhos.


A segunda história do gibi, intitulada “A Saga De Zhor, O Atlanta” (novamente escrita por Francisco, agora desenhada por Moacir Rodrigues) mostra a origem de Zhor, e muito mais do que isso: a ascensão e derrocada de Atlântida. Catástrofes naturais ou fúria dos deuses?
E temos então a derradeira HQ, “Ameaça Submarina”, igualmente escrita por Francisco de Assis Silva, novamente ilustrada por Walmir Amaral – agora artefinalizado por Milton (nos créditos consta somente o primeiro nome, não seria Milton Sardella?). Uma alucinante aventura de ficção-científica, com monstro, homens-peixe, andróides. E Zhor manda fogo (ou laser) nos conspiradores lemurianos, sem dó!
Zhor O Atlanta n.1 possui charme de fanzine: tem editorial, reprodução de textos escritos pelo filósofo grego Platão descrevendo o reino da Atlântida. Nas páginas centrais há um encarte em papel cartonado, com mapas cartográficos mitológicos (em cores) onde o autor nos mostra as intrigantes evidências da passagem de seres extraterrestres com seus objetos voadores identificáveis aos olhos dos antigos, através das mais notáveis escrituras clássicas. (JS)







PABEYMA


No ano de 1968, a Editora Edrel lançava nas bancas o primeiro número de Pabeyma – o primeiro, infelizmente, de uma curta série de quatro números (todos no formato americano, 34 páginas p&b). Uma pena que não tenha continuado por mais 400 números, tão formidável e precursora é esta criação de Nelson Ciabattari y Cunha, brilhantemente ilustrada por Paulo I. Fukue. Este, na ocasião, já havia criado outros dois heróis brazucas, que também foram publicados pela Edrel: Tarun (ok, mais adequado seria chamar-se “Tarzun”) e o interessantíssimo Super Heros (t.c.c. Heros). Fukue foi também ilustrador do ótimo Sanjuro, O Samurai Impiedoso, criação de Paulo Hamasaki, que seria lançado alguns anos depois, pela M&C Editores.
Antes mesmo que o primeiro número de Pabeyma chegasse nas bancas, a sua primeiríssima HQ, aquela que contava sua origem, já havia sido lançada pela mesma Edrel no 4º. número de Super Heros. Para não republicar uma história que havia sido recentemente lançada (ainda não havia chegado a hora dos encalhes, nem dos almanaques), as primeiras páginas do primeiro número de Pabeyma apresentam um conto introdutório escrito por Ciabattari, narrando aos leitores a origem de Pabeyma, e mais: numa leitura atenta podemos perceber a riqueza da pesquisa feita para a concepção deste personagem e seu universo incomuns.


Penso que um artista, ao elaborar sua obra, o faz influenciado pelas dores e alegrias de seu tempo. E isso se aplica mesmo quando se aborda o estilo ficção-científica. Ainda que se trate de temas que mostram mundos futuros hipotéticos, prováveis, inconcebíveis, etc., o autor da obra tem no coração as angústias de sua própria época. E os leitores de qualquer obra feita no passado, devem levar isso em consideração. Reduzir uma obra futurista escrita no passado, como se fosse um simples exercício profético, é subestimar a capacidade do artista. Pouco importa se Jules Verne ou George Orwell acertaram ou erraram o futuro previsto em seus livros (e eles mais acertaram que erraram!). O que fica é o registro de cada época, sob o ponto de vista daquelas mentes criativas & inquietas. Da mesma forma, todo aquele que, lendo Pabeyma, seguir tais preceitos, vai se espantar até cair o queixo, percebendo estar diante de uma obra muito a frente de seu tempo.
Pabeyma foi criado a partir das notáveis evidências que demonstram quase que irrefutavelmente a presença de seres de outros planetas na Terra, durante a antiguidade. E, se levarmos em conta principalmente aqueles gigantescos sinais iconográficos no topo da cordilheira dos Andes, os extraterrestres não só nos visitaram, mas muito provavelmente dominaram e governaram os povos antigos. E esta é a premissa inicial de Pabeyma: seres de um planeta distante chegam aqui e encontram homens vivendo com dinossauros. Bondosos, os visitantes espaciais livram os terrestres do martírio de Prometeu, repartindo sua vasta experiência com os autóctones – e não só isso: misturam-se a eles fazendo mescla das duas raças, e ainda deixam todo seu vasto conhecimento, como legado àquela nova geração. E os visitantes eram de um povo muito evoluído, que já dominava a ciência genética, já havia vencido a velhice e agora travava o desafio de superar a morte. E, o primeiro resultado desta nova empreitada, é uma criança gerada em laboratório, concebida não só para o esplendor físico, mas, graças a um feito cirúrgico notável, fôra implantado no cérebro desta criança toda memória e todo o conhecimento históricos, revelando-se assim todo o conhecimento desta nova humanidade, formada pelos filhos de terrestres com alienígenas. Perdendo-se ao longo dos anos, a criança perfeita cresce e recebe o afeto de uma tribo tupi-guarani, que o chama Pabeyma – que quer dizer “o imortal”. Seu notável saber e suas proezas físicas o transformam num líder em todo o mundo, até que é aclamado como diplomata universal, encarregado de resolver encrencas na Terra e fora dela.


 O visual super-heróico do Pabeyma remete ao Visão/The Vision, personagem criado por Jerry Siegel (o autor do Superman) na década de 50 do século passado, e revivido por Stan Lee para a Marvel Comics na década seguinte. Por incrível que pareça, o primeiro número de Pabeyma é, de longe, o mais fraquinho dos quatro (não que seja ruim, os outros é que são bem melhores). O herói-diplomata, ser genético criado artificialmente, mas impregnado da alma tupi-guarani, vai até o planeta Marte resolver uns problemas desencadeados pela vaidade de uma orgulhosa rainha. As intenções pacíficas de Pabeyma fracassam e ele é obrigado a lutar contra um imenso eunuco, e até mesmo contra sua majestade – o que nosso herói não sabia era que, de acordo com as leis de Marte, aquele que vencesse a rainha em combate, era obrigado a desposá-la em matrimônio! Que patacoada, hein? Mas o bom humor também faz parte das aventuras de Pabeyma, sendo ele mesmo um sujeito muito espirituoso.
Os três números restantes de Pabeyma é que vão mostrar porque este personagem, mesmo com passagem fulgurante pelo mercado editorial brasileiro, vem sendo lembrado por estudiosos e colecionadores de gibis, até os dias de hoje. E não é para menos: o “Herói Cósmico” é um exemplo de excelente ficção-científica nos Quadrinhos, um notável mundo futurista criado pelos autores e que revelam muito da época histórica em que foi feita. Vejam por exemplo, o que ocorre em Pabeyma n.2: a revista foi lançada entre agosto e setembro de 1968; e na história principal, a ação corre no ano de 1990. Segundo a visão dos autores, a insistente Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética havia causado um estrago e tanto no planeta: pesquisas & guerras genéticas haviam transformado a face dos humanos, agora seres híbridos com características animais – sendo mantidas, entretanto, as diferenças raciais e sociais. Estes novos seres humanos são conhecidos como “mutados” e, ao se descobrirem mais fortes e poderosos do que os humanos normais, tomaram-lhes o poder político e ainda iniciaram contra eles uma perseguição de intolerância. É aí que entra Pabeyma: com muita diplomacia, ele vai tentar resgatar os humanos normais, agora refugiados em seu próprio planeta. E é neste cenário que Pabeyma vai viver as aventuras publicadas nos números 2, 3 e 4 de sua revista. Aventuras de certa forma independentes, mas interligadas (o que pode ser constatado no final de cada história, sempre com um “gancho” para a seqüência, a exemplo dos antigos seriados do cinema). Suspense, ação, narrativa ágil, com as boas influências da Era de Ouro dos comics. E destaque para o traço marcante de Fukue (especialmente nas cenas de ação e luta), mais influenciado pelo Quadrinho europeu, do que o estadunidense, como bem observou o historiador dos comics, Antônio Luiz Ribeiro.


Ainda no segundo número, Pabeyma vai parar na região dominada por homens-alados; no terceiro número (o mais empolgante da série), o Herói Cósmico é obrigado a enfrentar alguns dos campeões dos “mutados” – e curioso é que, contra cada adversário, nosso herói aparece com um visual distinto. No quarto e último número, Pabeyma é capturado pelos homens aquáticos, e acaba ajudando-os a combater um polvo gigantesco. O quadro final anunciava uma próxima aventura, que jamais foi publicada (mas... terá sido escrita & ilustrada? Alguém sabe?). Uma lástima... mas, se Pabeyma sucumbiu ante a indiferença dos leitores patrícios, o tempo se encarregou de valorizá-lo – haja vista obras como o moderníssimo ByoCyberDrama, de Edgar Franco e Mozart Couto, que aborda muito dos temas vistos em Pabeyma.






JAGUARETÊ
Os Quadrinhos de Terror começaram a ser publicados no Brasil a partir da década de 50 do século passado, e, com o avanço da censura estadunidense sobre esse estilo de HQ, e para suprir os anseios do mercado editorial brasileiro, artistas pátrios passaram a produzir histórias de terror para inúmeros títulos lançados nas bancas. Iniciava-se, desta forma, uma admirável tradição dos Quadrinhos brazucas (tradição que, infelizmente, vem declinando juntamente com o declínio dos gibis de maneira geral). A partir da década de 70, especialmente com a revista Spektro, da Editora Vecchi, as histórias de terror passaram a ser narradas entre símbolos, lendas e paisagens brasileiras, notadamente nordestinas (onde se destacou o grande artista Elmano Silva – t.c.c. Mano – autor de personagens memoráveis como O Homem do Patuá e Trio Diabólico). Essa tendência de terror nacionalista, vamos dizer assim, prosseguiu com força total na revista Mestres do Terror, da Editora D-Arte de Rodolfo Zalla, um título que, tal como a revista Calafrio, da mesma editora, tornaram-se as mais longevas publicações do estilo terror, no mercado editorial brasileiro. E foi na revista Mestres do Terror, mais especificamente nos números 28 (de 1984) e 34 (de 1985), que Sidemar de Castro (roteiro) e Rubens Cordeiro (desenhos) apresentaram seus Contos Índios de Terror, destacando-se um interessantíssimo personagem brasileiros dos Quadrinhos: Jaguaretê.


A tradição tupi (e de outras tribos nativas do Brasil) em nossa formação cultural sempre teve sua força e, a despeito de todas as crueldades e injustiças que foram praticadas contra nossos indígenas, sobrevive até hoje. Na música, na literatura, no cinema e também nas Histórias-em-Quadrinhos, os índios sempre foram tema & fonte de inspiração para diversos artistas. E nossos quadrinhistas, mesmo vivendo num Brasil cada vez mais urbanizado, não se esquecem de nossas tradições ancestrais e, vira-e-mexe, criam alguns heróicos personagens indígenas que abrilhantam as páginas dos gibis – seja no estilo realista, como é o caso do Jaguaterê, seja no estilo infanto-juvenil, como o surpreendente Krahomim, do versátil Elmano Silva, o mesmo que inovou nas HQs de terror durante a vida editorial da Spektro.


Tivemos somente duas HQs apresentando o personagem Jaguaretê, mas ambas muito marcantes, que merecem destaque em futuras antologias da HQB. O traço maravilhoso de Rubens Cordeiro faz jus aos textos de Sidemar de Castro, ricamente embasados em pesquisa antropológica, roteiros que agradam em cheio aos fãs de aventura e terror, ao mesmo tempo em que se tornam profundas metáforas sobre um pouco da alma e da História dos homens. Na aventura publicada no número 28 de Mestres do Terror, Jaguaretê estréia mostrando ser um instigante jovem tupi, valoroso guerreiro, e bastante irrequieto, haja vista as incansáveis perguntas que faz ao ancião & feiticeiro da tribo. Este último, sabendo estar vivendo seus últimos dias na Terra, dizia a seu jovem pupilo que, somente após derrotar o terrível & traiçoeiro monstro Jurupari, só derrotando este monstro é que Jaguaterê teria condições de se tornar um pajé. A coragem do jovem guerreiro tupi o leva ao êxito, enfrentando um monstro que representa o pior medo dos homens, o “eu interior”, os nossos próprios demônios.


Se na primeira história de Jaguaterê temos uma profunda visão das angústias humanas, a HQ publicada no 34º. número de Mestres do Terror, é uma tremenda – e macabra – alegoria histórica. Desta feita, Jaguaretê, já consagrado como pajé da tribo, precisa enfrentar um terrível monstro que vem trucidando os habitantes de seu povo. Este monstro das profundezas representa, igualmente, os maus agouros do destino: é o Ipupiara, o arauto do fim do mundo – ao menos o fim do mundo dos tupis, que começava a ruir com a chegada dos europeus em território brasileiro.




OS GUERREIROS DO CREPÚSCULO

Nossa HQB tem muito a agradecer a todos os envolvidos na curta porém produtiva vida útil da editora independente paulistana Press Editorial, responsável por uma variada gama de lançamentos nas bancas, nas décadas de 80 e 90 do século passado. E foram lançados gibis de todos os gêneros: humor (foi a primeira editora a lançar revista própria do Níquel Náusea, de Fernando Gonzalez), terror, erotismo, faroeste, mas o destaque mesmo esteve na linha de fantasia & ficção-científica, sob a batuta de grandes artistas dos Quadrinhos brasileiros. Esta revistona Contato Imediato, apresentando Os Guerreiros do Crepúsculo, cuja capa vocês puderam ver logo acima, e sobre a qual estaremos comentando rapidamente, é um notável exemplo do que foi a Press Editorial capitaneada por Franco de Rosa. O responsável pelo roteiro e pelos desenhos d’ Os Guerreiros do Crepúsculo foi o paranaense Eloir Carlos Nickel (t.c.c. E.C. Nickel), um dos mais profícuos colaboradores da Press, onde pode mostrar outros personagens em Quadrinhos como Korban, O Exterminador de Andróides e Wull, O Guerreiro – até hoje Nickel continua na ativa, recentemente apresentou aos leitores um novo personagem heróico e futurista: Ultrax.



Lançada por volta de 1986/87, em revista formato grande contendo 40 páginas, Os Guerreiros do Crepúsculo são combatentes humanos de variadas épocas da História (incluindo uma época lendária): o representante de nossa modernidade é Lucas, um soldado sem pátria que luta para o governo que lhe pagar melhor; Trog, o homem das cavernas; Cibele, uma guerreira amazona (eis aí a participante da época lendária); Kulai, arqueiro mongol das fileiras do exército de Genghis Khan; Fanghar, nobre viking servo de Odin; e Mobuto, tão valoroso quanto mudo zulu africano. Todos foram reunidos num futuro dimensional por ação de um estranho gigante alienígena, que os livrou no exato instante em que sofreriam a morte terrestre e os transportou àquela estranha dimensão para que pudessem ajudar seu povo a exterminar uma raça inimiga, uma horda de demônios sanguinários. Para ajudar os humanos nesta batalha, o gigante alienígena lhes concede a ajuda de um poderoso andróide do futuro – mas seria este cyborg confiável? O que nossos (anti) heróis não imaginam, é que neste violento jogo espacial estaria em risco a própria existência da humanidade.


Nickel nos proporciona uma excelente HQ, uma das melhores aventuras do gênero, com muita ação e pitadas de humor, na medida certa. Mas, como já aconteceu (e ainda acontece) com tantos outros ótimos personagens brasileiros dos Quadrinhos, Os Guerreiros do Crepúsculo tiveram vida brevíssima nas bancas – creio que somente este número, esta aventura. Quanto aos motivos da brevidade dos nossos heróis de papel, permitam-me discordar da maioria, que reputa ao poder dos comics e dos mangás o fracasso editorial dos personagens brazucas das HQs. Creio que o motivo é ainda mais grave: trata-se do profundo desprezo que grande parte dos editores brasileiros, e, principalmente, dos leitores de Quadrinhos no Brasil, sentem a respeito dos personagens escritos & desenhados por compatriotas. Sem dúvida se encaixa naquilo que decretou o cronista Nélson Rodrigues, em décadas passadas: é o insidioso “complexo de vira-latas”, que faz os brasileiros detestarem tudo o que for brasileiro, e sempre a reputar os estrangeiros com muito mais virtudes do que nós próprios – a nós, só caberia defeitos. A persistência desse pensamento, desse lamentável “complexo de vira-latas”, isto sim é que poderá nos levar para o crepúsculo. (JS)






FANTAR


Dentro do estilo cinematográfico aventura & ficção-científica, sobressaem na preferência dos cinéfilos os filmes com monstros gigantes, estilo de filme que vem preenchendo as telas e encantando os olhos das platéias ao longo dos anos, e que continua até os dias de hoje, haja vista as diversas produções apresentando monstros de todo tipo destruindo cidades e aterrorizando a humanidade – gênero que ganhou ainda mais força, diante das inovações tecnológicas e da evolução da informática. Os artistas das Histórias-em-Quadrinhos, eles também quase sempre cinéfilos inveterados, certamente não escapariam desta influência. E aqui no Brasil temos um ótimo exemplo de HQ de monstrão detonando tudo, num gibi lançado na segunda metade da década de 60 do século passado pela Gráfica & Editora Penteado (GEP): Fantar, um ótimo personagem numa coleção que infelizmente durou somente 4 números (todos em formato americano com 32 páginas em p&b), com histórias assinadas por Milton Mattos e ilustradas com a competência talento habituais de Edmundo Rodrigues.


E o número 1 começa com a corda toda, logo no primeiro quadro, ocupando mais da metade da página e mostrando imagem que relembra os formidáveis cartazes dos memoráveis filmes de monstro das décadas passadas – seguida de uma rápida explicação da origem do Fantar: é o resultado de uma experiência genético-atômica projetada por uma quadrilha maléfica denominada Organização dos Sete Sábios (O.S.S.), com o nefasto intuito de destruir as cidades e dominar o mundo, ou o que restar dele. Por isso foi criado esse monstro enorme, irracional e indestrutível – e é assim que Fantar inicialmente se comporta, como um genuíno Godzila tupiniquim. Acontece que um renegado da O.S.S., o dr. Branny, é quem revela ao Serviço Secreto incumbido de destruir Fantar que aquela criatura apavorante é um ser humano transformado naquele gigantesco e disforme monstro através de experiências genéticas. Fantar fôra dotado de inteligência pífia, máquina de destruição cheia de inexplicável ódio, por isso se comporta assim, “meio” burrão. E reparem na potência do bicho: a cada ataque atômico que recebe, não sente um arranhão, e pior: cresce em tamanho & força! Fantar só pôde ser impedido graças a uma certa gosma melequenta inventada pelo dr. Branny. A história termina em suspense: teria perecido o Fantar? Só se as vendagens fossem muito baixas.
Ainda bem que, mesmo remando contra a força da indústria dos comics norte-americanos, e do desprezo de boa parte dos leitores brasileiros que abominam, mesmo sem conhecer, qualquer obra em Quadrinhos feita por conterrâneos, um segundo número do Fantar chegou nas bancas, com mais duas histórias: primeiramente em “A Ameaça de Tunamar”, nosso monstro reaparece próximo de um reino submarino desconhecido pela civilização terrestre, um país aquático chamado exatamente Tunamar, governado & habitado por povo belicista, pronto para invadir o planeta e tomar a superfície de assalto. E quem chega a tempo de impedir o nefasto plano dos tunamarianos é o próprio Fantar, que, dentre vários perigos, encontra seu maior desafio numa batalha contra um polvo igualmente gigantesco. E Fantar deve mesmo ter se cansado nesta aventura, pois sequer aparece na história seguinte, focada no dr. Branny que estava sendo alvo de atentados letais provocados pela O.S.S. – e enquanto isso, o dr. Branny se mostra um sujeito meio “chove-não-molha”, ao ser assediado pela bonita Miss Dotty, secretária e filha do chefão do Serviço Secreto, sugestivamente conhecido como Mr. Leader.


No terceiro número de Fantar temos também mais duas histórias, começando com “Os Invasores”, uma divertidíssima HQ de ficção-científica, com Fantar enfrentando uma invasão alienígena na Amazônia, detonando vários discos-voadores. Enfraquecido por não receber as habituais cargas atômicas, Fantar acaba reduzido ao tamanho de um ser humano – menos mal que acaba ficando mais inteligente do que antes. E, se nos dois primeiros números Fantar era uma grande ameaça para a humanidade, aqui acaba se tornado um super-herói, salvando a Terra de uma invasão alienígena. Já a segunda HQ do número 3 de Fantar chama-se “A Volta de Mr. Leader” – “volta” porque descobriu-se que o chefe do Serviço Secreto havia sido capturado e substituído por um espião impostor. E continua a busca por Fantar, que recuperara seu gigantismo. Prossegue também o flerte mal-resolvido entre Branny e Miss Dotty.
O quarto e derradeiro número de Fantar começa com “Nas Portas de Shambála” (“Sambála”, na capa), apresentando um fabuloso quebra-pau entre Fantar e um tiranossauro das terras dos incas. E a segunda HQ deste 4ª. número fecha com chave-de-ouro a carreira deste gibi entre nós: “Os Inimigos de Miss Dotty” é quase uma HQ erótica, mostrando fartamente as personagens femininas em biquínis (Miss Dotty, uma espião da O.S.S. e uma outra, coadjuvante). Bem, há também alguns bandidos, para que não nos esqueçamos que estamos lendo um gibi de aventura. Miss Dotty mostra ser hábil no judô, derrubando um dos facínoras espiões. Fantar, o dono do gibi, tem participação totalmente dispensável, aparecendo em irrisórios três quadros.


E terminava assim a saga de Fantar no mercado editorial brasileiro, mais um que sucumbiu diante dos poderosos inimigos externos e internos, mas ainda presente na imaginação dos leitores da época e na dos novos leitores interessados & curiosos a respeito da HQB. Há alguns anos, muito depois do Fantar, surgiu um personagem estadunidense visualmente parecidíssimo com o brazuca, uma coisa chamada Savage Dragon, uma das maiores porcarias da História dos comics – e mesmo assim teve mais leitores brasileiros do que o Fantar. Mais um típico exemplo do rodrigueano “complexo de vira-latas” que atormenta a alma brasileira.






GUERREIRO NINJA
A trajetória das Histórias-em-Quadrinhos no Brasil possui marcante tradição no que diz respeito aos personagens de artes marciais, como por exemplo O Judoka (Pedro Anísio e Baron), Mão de Ferro (Minami Keizi e Ignácio Justo), Karatê 09 (Cláudio Seto), Sanjuro O Samurai Impiedoso (Paulo Hamasaki e Paulo Fukue), O Ninja (Deodato Filho, t.c.c. Mike Deodato), Kung Fu (Hélio do Soveral e José Menezes), Karatê Men (Wilson Hisamoto e Kemi Shimizu), Cinthia (Paulo Yokota), Mestre Kim (Luiz A.Aguiar), entre outros. E dentre estes outros, temos o Guerreiro Ninja criado por Tony Fernandes. Fernandes & equipe formaram, a partir dos anos 80 do século passado, um dos mais produtivos estúdios de HQs, tendo lançado, seja com selo próprio (Editora Phênix) ou por outras editoras (especialmente a Noblet) vários gibis de variados gêneros, tamanhos e personagens. Dentre os tipos super-heróicos, tivemos Fantasma Negro e especialmente Fantastic Man, um herói de ficção-científica de ótima aceitação na época, de modo que preservou fãs até os dias de hoje (este que vos escreve, inclusive), quando Fernandes prepara o retorno triunfal do herói em edição colorida.

E, para falar do Guerreiro Ninja, ninguém melhor do que o próprio autor, por isso reproduzo a seguir um texto introdutório assinado por Fernandes, e publicado num gibi em formatinho chamado A Maldição do Guerreiro Ninja, lançado pela Editora Noblet por volta de 1996: (...) dois agentes da divisão especial da polícia de Nova Iorque se transformam em Guerreiros Ninja, para combater o crime organizado, as drogas e o terrível Mestre Higuchi, o senhor supremo da organização do mal, um black ninja que converte seus seguidores em assassinos e prega o domínio total e a submissão da humanidade à filosofia maligna (...) Steve Bishop e Susan Kinkaid (Os Guerreiros Ninjas) foram criados pelos estúdios Tony Fernandes em 1989, baseado no estrondoso sucesso dos filmes de ação, que até hoje são campeões de bilheteria, e desde então esta série nunca mais deixou de ser publicada, tornando-se verdadeiro cult do Quadrinho nacional. Sob o comando do comissário James Backer e do sensei Takemura, os Guerreiros Ninjas vieram para dinamizar a linguagem das HQs nacionais, visando atingir o público mais adulto, por isso suas aventuras são repletas de erotismo, mulheres sensuais, muita violência e ação – e acrescento: com muito bom humor. Eu, particularmente, rachei o bico ao ler a aventura “Demônio das Trevas” (publicada num gibi tamanho europeu, lançado nos anos 90 do século XX), ao perceber que Bishop, que é casado, se torna amante de Susan, e os adúlteros chegam a zombar da pobre esposa, que chora desoladamente... de fato, os heróis dos Quadrinhos passavam a viver outros tempos, onde a boa moral pouco importa.

Na verdade, Bishop e seu rival mestre Higuchi são reencarnações de dois espíritos ninjas do Japão medieval, inimigos mortais desde então e que retomam sua batalha em Nova Iorque do século XX – e tais episódios ancestrais são narrados nas HQs através de flashbacks (que demonstram boa pesquisa histórica). Higuchi arrebata para si diversos aliados, enquanto Bishop pode sempre contar com a inestimável ajuda de Susan, além do Esquadrão Ninja da Polícia de Nova Iorque (!!!). Quanto as vestimentas, os ninjas do Bem só se diferenciam dos ninjas do mal por uma caveirinha estampada no capuz destes últimos. Os uniformes de Bishop e Susan aparecem magicamente quando ambos tocam os anéis que possuem (o que nos faz lembrar daquele desenho animado dos estúdios Hanna-Barbera, Shazzan), anéis que mostram o símbolo da dicotomia Bem-mal, yin-yang – esta mágica transformação de vestuário, por sua vez, parece inspirada nas histórias do Judoka (que começou combatendo o crime solitariamente, e com tempo acabou também ganhando uma parceira, Lúcia).

Se Guerreiro Ninja é diversão garantida, por outro lado levanta questão antiga, e muito pouco divertida: HQs no estilo super-herói feitas no Brasil, podem ou não ser consideradas “coisa nossa”? Isso realmente é uma discussão acadêmica que se arrasta há anos. Para vocês terem uma idéia, reparem que curioso comentário do sr. Moacy Cirne, publicado na Revista de Cultura Vozes, de janeiro/fevereiro de 1971, e que estarei reproduzindo na seqüência. Na ocasião, o sr. Cirne falava sobre o Judoka, personagem que na época alcançou inesperado sucesso de vendas pela Editora Brasil América Ltda. (Ebal), de Adolfo Aizen. Mesmo reconhecendo as virtudes do personagem e seus ilustradores, conclui o sr. Cirne, babando um marxismo de algibeira, que o Judoka, um herói brasileiro, não se coaduna com a estrutura ideológica da sociedade brasileira. Porque não serão aventuras no interior do Maracanã, no interior de Minas Gerais, no Pão de Açúcar ou em Recife, que o tornarão um herói de nossa gente, como um Macunaíma. Depois de ler isso, fiquei imaginando Carlos (o Judoka), diante de um perigo onde, além da troca mágica de uniforme, trocasse também a cor da tonalidade de sua pele... não creio que o sr. Cirne tenha mudado de opinião, mesmo passado tanto tempo (haja vista seus comentários mais recentes, ainda com o mesmo fervor marxista-gramsciano). O fato é que um personagem como O Guerreiro Ninja transgride visceralmente aquela assertiva feita pelo sr. Cirne em 1971: um gibi de herói feito no Brasil onde não só todos os personagens não são brasileiros, mas também a ação transcorre em outro país (no caso, os EUA), e que, entretanto, demonstra uma brasilidade entusiasmante. Tony Fernandes ambientou as aventuras do Guerreiro Ninja em Nova Iorque como poderia fazê-lo em qualquer grande cidade desse nosso planeta massificado, mas uma leitura atenta dos diálogos e uma boa percepção dos roteiros nos faz perceber inegáveis talento & bom humor muitíssimos brasileiros de seus criadores – incluindo aí uma saudável “tiração de sarro” dos estadunidenses.






OPHYDIA A RAINHA SERPENTE
No 31º. número da revista Sobrenatural, lançada pela Editora Vecchi em outubro de 1981, os leitores tiveram a oportunidade de conhecer uma notável HQ escrita e ilustrada por Eloir Carlos Nickel: Ophydia, A Rainha Serpente, o grande destaque daquela edição. A história começa em plena floresta amazônica, onde dois exploradores arqueólogos enfrentam sofregamente a invencível floresta, em busca de um misterioso e desconhecido templo sagrado. Quando já perdiam a esperança, encontram o fascinante monumento que relembra as construções incas e egípcias. No interior do templo a primeira coisa que encontram é uma advertência, avisando os incautos dos perigos de se despertar uma certa deusa-serpente. Claro que os cépticos senhores não dão a menor importância para o aviso, até que se deparam com uma linda espécie de fêmea: era Ophydia, A Rainha Serpente que despertara do sono milenar, pronta para dar seqüência a seu legado de sangue! Um dos arqueólogos é a primeira vítima fatal dos dentes peçonhentos da rediviva Ophydia, reduzindo o pobre coitado a cinzas. O outro arqueólogo, chamado Walter, é poupado não por misericórdia da cruel deusa, mas para que seu corpo físico seja reencarnado por Khor, o fiel servo da Rainha Serpente. Khor livra-se então de seu corpo putrefato, e habita agora o jovial corpo de Walter. Este, por sua vez, passaria a carregar o sombrio aspecto de um defunto egípcio – um corpo de múmia! Ophydia e Khor seguem para a grande metrópole, com a firme intenção de dominar os chefões do crime. Só não contavam com um detalhe: a obstinação do atormentado Walter, movido pelo ódio, em busca de vingança.

A saga de Ophydia, A Rainha Serpente demonstra que E.C. Nickel não é somente um excelente desenhista, mas também um roteirista de mão cheia, capaz de narrar uma história excelente, e de escrever ótimos diálogos. Sua HQ é impecavelmente bem construída, história ágil, aventura movimentada, cheia de suspense, ação, e com notáveis referências aos melhores filmes de terror do cinema, especialmente dos delirantes filmes B.





JOHNNY PECOS
DJANGO

Os filmes de faroeste, embora hoje em dia estejam em franca decadência, sempre encantaram gerações passadas, e é claro que os roteiristas e ilustradores de HQs não estariam de fora desta – exemplo marcante até hoje é o Tex da Bonelli Editore, que, mesmo com o descaso (e até mesmo aversão) que o gênero western vem angariando nos últimos tempos, ainda mantém relevante popularidade entre os fãs das Histórias-em-Quadrinhos, e em especial no Brasil, onde continua sendo, disparado, o gibi mais vendido nas bancas, deixando para trás toda baboseira marvel, dc, vertigo e outras porcarias.

E em nosso país é também marcante a presença de personagens de faroeste criados por artistas patrícios. Um estilo que não faz parte de nossa História, mas certamente faz parte de nossa cultura, haja vista que filmes, seriados e HQs de faroeste sempre fizeram grande sucesso entre nós, durante as décadas em que o western era o gênero preferido das multidões. E isso se reflete até os dias de hoje, com os dvds, os fã-clubes, os fanzines, e até mesmo nos gibis, haja vista a nova empreitada de Tony Fernandes com sua Apache – e mesmo deste humilde escriba, em O Bom & Velho Faroeste, gibi com história de far-west com arte notável de Adauto Silva. E não nos esqueçamos da recentíssima volta triunfal do Chet, de Wilde Portela.

Um bom exemplo do fascínio exercido pelo faroeste em nossos quadrinhistas foi o ousado projeto da Editora D-Arte de Rodolfo Zalla, na década de 80 do século passado: Johnny Pecos. Zalla, oriundo da Argentina (país que também conta, em sua história editorial das HQs, com uma variada gama de personagens de faroeste), bancou revista em formato europeu com 48 páginas (quase todas em cores) que contou com a participação de grandes nomes dos Quadrinhos Brasileiros tais como Eugênio Colonnese, Gedeone Malagola, Luís Meri, Rubens Cordeiro, entre outros. O personagem-título Johnny Pecos é uma criação de Jota Laerte (roteiro) e Rodolfo Zalla (desenhos). Pecos é um mestiço da fronteira, meio estadunidense e meio mexicano, que tem a noiva e o sogro cruelmente assassinados por bandoleiros bêbados. Mesmo sendo bem sucedido em sua vingança, ele sabia que sua vida estava mudada para sempre: tornara-se um viajante solitário, percorrendo desertos e pradarias entre facínoras e federales, sempre pronto a defender aqueles que se encontram em desvantagem.
As histórias de Johnny Pecos, além da dose indispensável de tiros e pancadaria, também mostravam as angústias dos personagens, humanizando-os. E os desenhos de Mestre Zalla dispensam maiores comentários, especialmente entre aqueles que já se tornaram calejados apreciadores da HQB. Apesar de todo capricho e talento dos envolvidos, Johnny Pecos durou somente 4 números – naquela época, o western já perdera muito de seu prestígio entre o grande público, vitimado que foi pela militância politicamente correta, de modo que Zalla e seus parceiros passaram então a se dedicar aos Quadrinhos macabros com Calafrio e Mestres do Terror, dois grandes sucessos por mais de uma década. Nos anos 90 a Editora Noblet chegou a lançar um gibi de Johnny Pecos, re-editando HQs publicadas pela D-Arte.

De modo geral, os artistas brasileiros dos Quadrinhos que se aventuraram no gênero faroeste, pareciam mais inspirados nos filmes de bang-bang feitos na Itália, do que nos originais estadunidenses. Exemplo marcante disso, da influência do spaghetti-western em HQs brasileiras, pode ser visto num personagem que teve duas HQs publicadas no antológica Johnny Pecos, da Editora D-Arte (mais especificamente, nos número 3 e 4) – personagem que levava o nome de um dos mais famosos filmes italianos de faroeste: Django (interpretado no cinema pelo ator Franco Nero). Com roteiros de Luis Meri e desenhos de Rodolfo Zalla, o que mais chamou a atenção nas aventuras de Django foi seu inimigo, um fanfarrão de nome Pancho – tipo aliás muito recorrente nos bang-bangs italianos, uma caricatura do que teria sido o “general” Pancho Villa, o sanguinário revolucionário mexicano que aterrorizava mexicanos e estadunidenses da fronteira (chegou até a invadir e saquear a cidade de Durango), na primeira década do século XX. Já este Pancho do gibi, praticamente morto na aventura publicada no número 3 de Johnny Pecos, retorna cheio de vida no número seguinte, onde mais uma vez é colocado à beira da morte. Mas quem “morreu”, infelizmente, foi mesmo a revista do Johnny Pecos, uma pena.


CANYON
 
Outro personagem dos Quadrinhos brasileiros nitidamente inspirado no Django do cinema, e produzido anteriormente ao Django de Luís Meri e Rodolfo Zalla, foi Canyon, que teve ao menos um gibi lançado pela Editora Roval na primeira metade da década de 70 do século XX, mostrando histórias escritas por Victor Martins e José Sebastião Penteado, ilustradas por Hugo Martins e Wilson Fernandes (arte-final). Canyon era um fugitivo da justiça que, além de se esconder das garras da lei, vivia se metendo nas encrencas alheias – e, para resolvê-las, contava sempre com a força de seus punhos e a boa pontaria no manejo do colt. Tal como o Django do cinema, Canyon possui ar misterioso e soturno, além de usar o poncho, que é marca registrada nas telas com o ator Franco Nero. E, como todo bom herói de spaghetti western que se preze, Canyon é impreterivelmente surrado pelos malfeitores, antes de revidar com sua pontaria certeira. Os roteiros das aventuras de Canyon nos Quadrinhos até que não eram ruins, os desenhos, entretanto, meio desleixados (certamente os autores poderiam fazer melhor, não fosse a correria do mercado editorial do período), não são muito animadores.





PANCHO
Outro exemplo de personagem brasileiro de História-emQuadrinho baseado nos filmes de bang-bang à italiana, é o Pancho, do talentoso Pedro Mauro Moreno, lançado numa edição única pela Editora Taíka em 1971 (teve também uma HQ publicada em outro título da Taíka, CowBoy). Pancho é praticamente um personagem de Sérgio Leone, veste poncho sobre os ombros e seus hábitos aparentemente frios e taciturnos não escondem a sede de justiça. Neste gibi lançado pela Editora Taíka, Pancho vive sua aventura num humilde povoado mexicano, em busca de quadrilha que assaltara um, literalmente, explosivo carregamento de nitroglicerina.




O CHACAL - TONY CARSON
Os personagens de faroeste criados por artistas brasileiros dos Quadrinhos quase sempre foram baseados nos filmes italianos do gênero, os famosos spaghetti western ou bang-bang à italiana. Um notável exemplo disso é O Chacal – Tony Carson, criado por Antônio Ribeiro e desenhado majoritariamente por Jordi, mas também por Antônio Balieiro e Antonino Homobono, sendo que este último ilustrou muitas das capas dos livrinhos lançados pela Editora Vecchi. Foi na editora carioca, a propósito, onde nasceu Tony Carson, criado para suprir as histórias de um personagem italiano da Bonelli Editore chamado Judas, que vinha sendo publicado mensalmente pela Vecchi num gibi estilo “fumettinho” com o título de O Chacal. O material do Judas, entretanto, findou-se no número 16, e a redação da Editora Vecchi se viu obrigada a produzir ela mesma um personagem para substituir aquele da Bonelli (mesmo porque, na época também era lançado outro personagem de autores brasileiros criado para o gênero faroeste, e que obtinha ótimo número de venda nas bancas: Chet, de Wilde Portela e parceiros). Em outubro de 1981, chegava nas bancas o número 17 de O Chacal, apresentando a primeira aventura da série do Tony Carson, o “Chacal brasileiro”, e que reapareceria em pelo menos 11 números seguintes. Muito diferente do Judas, que era um comportado agente da Pinkerton, nosso Tony Carson não tem qualquer traço de bom-mocismo, sendo um bastado sujo e fdp, grosseiro, misógino, bruto, um caçador de recompensas amoral que só pensa em matar os facínoras e torrar o dinheiro da recompensa na jogatina, na bebida e na prostituição. A violência de Tony Carson parece não ter limites (chega até a arrancar um olho de um fora-da-lei, usando um punhal afiado).
Os desenhos despojados, por vezes toscos, das histórias (conseqüência principalmente dos apertados prazos, de se lançar um título mensal com média de 100 páginas), davam a elas aspecto ainda mais sujo – embora com uma pitadinha de bom humor, nem sempre mórbido. O roteirista Antônio Ribeiro, posteriormente, escreveu vários livros de faroeste para a Editora Fittipaldi, além de trabalhar em tiras cômicas para jornais estadunidenses, sempre assinando com o pseudônimo de... Tony Carson! O Chacal – Tony Carson ainda foi lançado em bancas nacionais por outras duas editoras independentes, a Nova Sampa (responsável por uma única edição em formato de comics) e a BLC Edições, mas apenas alguns poucos números que somente republicaram HQs lançadas pela Editora Vecchi.



CYPRUS HOOK
Cyprus Hook, personagem de Quadrinho do gênero faroeste, lançado na década de 80 do século passado, foi criado por um talentoso roteirista brasileiro, Julio Emilio Braz. Cyprus Hook é um ex-combatente, deformado durante as batalhas da Guerra Civil norte-americana (perdeu a mão direita, onde ostenta um gancho – daí o nome, Hook, que é “gancho”, em inglês), que, perseguido por crimes que não cometeu, vaga sem destino pelo velho oeste ao lado de seu único aliado, o nativo-americano Skookum, a quem Cyprus havia salvado da morte. As histórias deste anti-herói maneta diferenciavam-se das demais do gênero devido, principalmente, a violência explícita, por vezes lembrando mais um roteiro de filme gore do que de faroeste (se bem que há spaghetti westerns muito sangrentos, também). Escalpos, canibalismo, decepamentos, tudo mostrado sem frescura. Mas claro que seria muito difícil para os leitores de hoje, ficarem chocados com as cenas de Cyprus Hook, como nós ficamos na época... afinal, hoje em dia, com as artes praticamente dominadas pela estética do gore, onde qualquer gibi banal do Superman já apresente história cheia de sangue, tripas e membros decepados, para os leitores de hoje Cyprus Hook pareceria coisa “fraca”. Cyprus Hook apareceu pela primeira vez no 23º. número da antológica coleção Histórias do Faroeste (outubro de 1981), da Editora Vecchi, numa história ilustrada por Antonino Homobono. Posteriormente, em 1987, a Press Editorial lançou uma edição única com o personagem, escrita por Braz e desta feita ilustrada por Ofeliano de Almeida (autor do Leão Negro).
 
 
REX
Rex, criado e ilustrado por Watson Portela, é personagem de História-em-Quadrinho do gênero faroeste publicado nas revistas da Editora Grafipar e depois em edição especial de 96 páginas pelos grupos Bico de Pena/Clube dos Quadrinhos, no início da década de 80 do século passado. A inspiração óbvia é o Jonah Hex da DC Comics, mas a melhor notícia ao se ler Rex é descobrir que não é tão ruim quanto aparenta, ao contrário, personagem e história têm sim muito mais virtudes do que defeitos (a primeira virtude, de cara, são os belíssimos desenhos), e em sua concepção busca se diferenciar do cow-boy da DC. Assim como seu modelo estadunidense, Rex tem o rosto deformado – mas não por ponta de punhal em brasa (caso do Jonah Hex), e sim por conseqüência de patada de urso. E pelo visto a deformidade em nosso Rex feriu mais profundamente sua alma do que a vaidade: além do rosto com feições cadavéricas, perdeu totalmente o uso de suas cordas vocais, fazendo com que sofresse conflito existencial e acabasse por abandonar mulher e filhos (sendo que, neste caso, ao menos chegou a tempo de salvá-los das mãos de facínoras). De qualquer forma, Rex está condenado a vagar em solidão através das montanhas geladas, o triste destino dos homens rejeitados pela morte... outra característica que diferencia nosso Rex do Jonah Hex, é que o personagem de Portela carrega consigo, acoplado na mão direita, a pata decepada do urso que havia lhe desfigurado o rosto. Se uma “luva” como esta não é lá muito propícia para se sacar um colt, ou disparar uma winchester, ao menos as afiadas unhas do pobre animal acabam se tornando uma boa alternativa para se lidar com sujeitos folgados. A saga de Rex teve arte de Watson Portela, sendo arte-finalizado por Franco de Rosa e também por Itamar Gonçalves (que chegou a ilustrar algumas páginas inteiras).




KATE MOON


Kate Moon é uma personagem criada por artistas brasileiros dos Quadrinhos, mas que vive suas aventuras no torvelinho dos violentos conflitos entre soldados do Exército dos EUA e os nativo-americanos no quarto final do século XIX. Teve uma única aventura lançada nas bancas, dentro da antológica coleção Histórias do Faroeste, no formato “fumettinho” pela Editora Vecchi – mais precisamente no derradeiro número 28, de setembro de 1982. Os autores Luiz Antônio Aguiar (roteiro) e Julio Shimamoto (desenhos) produziram uma segunda HQ com esta sensual heroína das pradarias, mas infelizmente Histórias do Faroeste foi cancelada antes que esta segunda aventura pudesse ter sido publicada (Julio Shimamoto me confessou que produziu estas duas HQs com muito entusiasmo). Esta segunda história com Kate Moon, chamada “Meu Amor Vermelho”, jamais chegou nas bancas mas foi publicada em fanzine, mais especificamente em Heróis em Ação n.7 (março de 2005). Desculpem, mas a modéstia não me permite citar o nome do editor desse fanzine...




O JUSTICEIRO DA ESTRADA



Quem coleciona gibis está acostumado a pesquisar e vasculhar pilhas de revistas em sebos, em busca de raridades dos Quadrinhos. E por vezes fazemos descobertas tão fascinantes das quais não temos nenhuma referência – tal como a surpresa que tive ao me deparar com este exemplar único de O Justiceiro da Estrada. Sempre que encontro exemplares raros assim, a primeira coisa que faço, antes mesmo de conferir o nome dos autores, é procurar saber a data de publicação. A este respeito, há uma pista na contracapa, no canto inferior direito, onde pode ser lido em letra pequenas: “Edição SSB – Direitos Reservados – 1970”. Por outro lado, não encontrei no gibi qualquer informação a respeito dos autores da HQ inclusa, chamada “O Mistério Dos Carneiros Sem Rastro”, que se estende por todas as 32 páginas (formato americano). Diante disso, desta falta de informações, enviei reprodução da capa e de algumas páginas internas para o amigo Edgard Guimarães, que certamente me ajudaria nesta elucidação. Eis a resposta que me enviou o célebre editor do centenário fanzine Quadrinhos Independentes: “Agora você cavou fundo! Nunca tinha visto nenhuma referência a este personagem. A única coisa que posso dizer é que esse estilo de desenho, com referência fotográfica, vários tipos de retícula, abuso de onomatopéias, foi muito usado pelo desenhista paranaense Leisenfeld na década de 70 do século passado. Saiu uma HQ dele na primeira fase do Historieta (nota: fanzine editado pelo gaúcho Oscar Kern, que marcou História na HQB), e algumas no início da Grafipar. Infelizmente produziu pouco”.

Após a leitura de O Justiceiro da Estrada, fica evidente tratar-se de campanha publicitária para divulgação dos caminhões Scania – mas, longe de ser um simples catálogo, a HQ é divertida e muito bem produzida. Ponto para o marqueteiro que pensou nisso! E este intrépido e desconhecido herói mascarado possui tripla identidade: pode ser tanto o empresário Francisco do Prado Filho, diretor-presidente de uma empresa agro-industrial e exportadora; quando deixa a barba crescer por alguns dias é o caminhoneiro Chico Sampaio, a percorrer as estradas do país ao lado de seu companheiro Japa (personagem que dá o tom humorístico da história); e finalmente, quando veste botas, casacão invocado e diminuta máscara, montado num possante caminhão Scania (escondido num depósito que lembra os esconderijos clássicos dos super-heróis), torna-se o Justiceiro da Estrada, terror dos bandoleiros do asfalto. As motivações de Francisco no combate ao crime datam de sua adolescência, quando presenciou o assassinato de seu pai João Sampaio, vítima de jagunços de um coronel oligarca. Por isso a assinatura do herói, JS, lembrando as iniciais do nome de seu pai, mas que o deixam conhecido como o “Justiceiro do Scania”. Nesta aventura, o herói mascarado dá conta de enfrentar contrabandistas de carneiros.

Curioso é que no final daquela mesma década a Scania voltaria a investir em publicidade noutro veículo de comunicação de massas (antigamente os Quadrinhos eram lidos por multidões), com o seriado televisivo Carga Pesada (que teve uma horrenda refilmagem recentemente, na primeira década do século XXI). O caminhão usado no seriado não é o mesmo da HQ do Justiceiro da Estrada, mas sim um mais moderno, a cabine quadrangular com a dianteira “achatada”. Ainda no primeiro seriado, talvez por não se renovar o contrato, o caminhão Scania (o grande astro do programa) acabou sendo substituído por um Dodge bem fubega. Os roteiros também decaíram (mas ainda longe da ruindade do que foi visto recentemente) e a série terminou. Foi, entretanto, um seriado muito marcante. Lembro-me de que, ainda garotinho, obriguei meu avô a me levar numa revendedora Scania em São José do Rio Preto/SP, só para ver de perto e montar na cabine num daqueles “brutos”. Carga Pesada teve também uma versão em Quadrinhos, com desenhos de Julio Shimamoto, não sei se um ou dois números, mas sem retratar o Scania, e sim aquele malfadado Dodge.







ÉRCIO ROCHA

Como já cansei de dizer anteriormente – ou por outra, já disse várias vezes e não vou me cansar de dizer – que foi através da pesquisa do sr. José Eduardo Cimó em seu Fã Zine -Heróis Nacionais (lançado em 1994) que meu espírito se entusiasmou e me levou a estudar mais seriamente sobre os personagens brasileiros das Histórias-em-Quadrinhos. E, dentre os muitos deles presentes no antológico e inesquecível Fã Zine, tive a felicidade de me deparar com alguns, em bancas de usados ou através de outros colecionadores. É o caso do fanzine Ércio Rocha, apresentando personagens dos Quadrinhos criados por Giorgio Cappelli em meados da década de 60 do século passado. Já os fanzines foram lançados muitos anos depois, entre 1992/93, sendo que, anteriormente (entre 1989/90), foram publicados no extinto jornal paulistano Notícias Populares – Ércio Rocha é narrado em tiras, eis como foi produzido. Caíram em minhas mãos os números 4 e 5 deste fanzine, com 32 e 36 páginas respectivamente, editados no formato retangular vertical (que hoje chamaríamos de widescreen). E, como estamos falando de fanzine, há editorial, sessão de cartas (com a participação de outros ilustres fanzineiros, como o saudoso Oscar Kern de Historieta e também Edgard Gumarães, este ainda cheio de vida e energia, lançando regularmente o centenário Quadrinhos Independentes) e artigos sobre HQs (como por exemplo o oportuno artigo sobre o personagem Raffles, de Carlos Thiré – o mesmo autor de Os Três Legionários De Sorte, memorável criação do passado).
 

Passaram pelas páginas do fanzine Ércio Rocha alguns notáveis personagens da HQ brasileira, todos criados por Cappelli, como por exemplo Minuano, o herói dos pampas gaúchos que, com suas bombachas, seu lenço, suas botas & esporas, além é claro de sua indefectível boleadeira, está sempre disposto a espalhar a justiça na região sul do país, tal qual o vento homônimo que por lá sopra. Na aventura publicada no 4º. fascículo de Ércio Rocha, o Minuano enfrenta os capangas folgados de um rico estancieiro, e para isso conta com a ajuda de uma jovem, linda e valente gauchinha, tão destemida que mete o pezinho dengoso, com força, no meio das pernas dos machões. E ainda pergunta ao bandidão: “gostas de coices nos bagos?”. Vindo de ti, guria, não deve ser tão mau...




Jose é a personagem convidada do 5º. fascículo, vivendo aventura doidona sobre discos voadores e feminismo sensual (tudo é possível!). Bom humor retro-futurista e, ousado para a época, com um leve toque de lesbianismo. Quadrinho brazuca pré-vanguarda européia. Se Guido Crepax leu isso, deve ter babado de inveja.



E o personagem que dá título ao fanzine é um jovem da Força Aérea Brasileira vivendo aventuras no pantanal matogrossense, em narrativas cheias de ação e movimento tais como as HQs que inspiraram o autor – Capelli é nascido em 1926, o que quer dizer que cresceu lendo os maiores clássicos da Era de Ouro, e não por acaso Ércio Rocha tem o pique, a energia e o entusiasmo de Tim Tyler’s Lucky, Johnny Hazzard, Scorchy Smith e outros heróis memoráveis das comic strips! Os fascículos 4 e 5 apresentam a história chamada “Bento Lobato”, quando Ércio Rocha e seus companheiros precisam deter um bando de vigaristas estrangeiros que praticavam pesca predatória na região. Os bandidos acabam por seqüestrar o pai de Ércio (o Bento Lobato do título) e para resgatá-lo o jovem da F.A.B. poderá contar com a ajuda de um espertíssimo e mui corajoso gaúcho. Este, a propósito, é um dos muitos personagens interessantes desta brilhante HQ, onde destaco também a presença de Gurupi, um índio imenso e de força incrível, sempre disposto a ajudar Ércio. E o grande destaque, o traço de Cappelli, riquíssimo em detalhes e paisagens.








RAIMUNDO, O CANGACEIRO


Está lá na página 164 do Fã Zine Heróis Nacionais editado por José Eduardo Cimó em 1994 (obra que hoje é nobre referência para os pesquisadores e estudiosos dos personagens brasileiros das HQs), sobre Raimundo, O Cangaceiro: herói cangaceiro que foi criado por José Lanzelotti em 1953, era exclusividade da Editora La Selva, de Salvador Bentivegna. As aventuras se passam nas caatingas nordestinas, onde Raimundo, com 17 anos entra para o cangaço para vingar a morte do pai, morto pelo coronel Venâncio, que roubara suas terras. A história está dividida em capítulos com os excelentes desenhos de Lanzelotti, verdadeira obra-prima. Consegui resgatar um exemplar de Raimundo, O Cangaceiro aqui mesmo em Jaú, na Banca Garagem, e digo sem pestanejar que mestre Cimó está coberto de razão! Esta referida edição encontrada por mim trata-se na verdade de uma republicação, o segundo número da série re-editada pela Editora Edrel, provavelmente na década de 60 do século passado. Formato americano com 32 páginas em p&b, apresentando duas aventuras de Raimundo, O Cangaceiro e uma história complementar para-didática sobre o bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera (hoje em dia nome de rodovia muito utilizada e conhecida dos paulistas, atravessando importantes municípios do leste do Estado, até a capital), escrita por Minami Keizi e ilustrada por Fernando Almeida.
A primeira HQ deste gibi é a seqüência imediata do número anterior: o bando do cangaceiro Sussuarana, do qual faz parte Raimundo, acabara de dominar a cidade de Carrasqueira, e o líder ameaçava praticar sua justiça peculiar. Lanzelotti procura mostrar os cangaceiros como homens cruéis, determinados, justos com os mais pobres e implacáveis contra os funcionários públicos. Mas Raimundo faz questão de frisar que não entrou no cangaço para cometer crimes, mas sim para combater as injustiças. Éticas do cangaço à parte, a passagem por Carrasqueira será marcante para o personagem principal, pois perderá o seu padrinho Acácio, morto no embate com a polícia, e ainda conhecerá um grande amor na pessoa da jovem Jacira, a quem Raimundo salvara do nefasto Chico Rastejador – que estava pronto para estuprar a moça, contrariando as ordens de Sussuarana. E esse entrevero Raimundo vs. Chico acabará por trazer muita dor de cabeça ao bando de cangaceiros: ferido em seu orgulho, o Rastejador torna-se alcagüete da polícia, traindo seus antigos parceiros. Com astúcia, Sussuarana consegue despistar as “volantes”, mas o problema persistiria na aventura seguinte, chamada “O Cavalo Fantasma”. Raimundo sabia que, enquanto não desse cabo de Chico Rastejador, o delator continuaria a causar problemas. Por isso, ao lado do inseparável companheiro Rogério, partem na busca do vilão. Acabam parando num humilde vilarejo chamado Vila de Nazaré, onde Chico planejava fuga para São Paulo. Nesse local, Raimundo fica conhecendo a lenda de um certo cavalo maldito, considerado não só indomável, mas também assombrado! Desafiando a credulidade supersticiosa do povo local, ao cair da noite Raimundo consegue domar o animal, demonstrando assim que não havia nada de sobrenatural naquele belo espécime de eqüino. Enquanto isso, Chico Rastejador percebe que as pessoas que haviam prometido levá-lo, junto a outros retirantes, para a capital paulista, não passavam de trambiqueiros. Chico mata um deles e recupera o dinheiro das passagens, que estava sendo roubado pelos malandrões – mas não terá um segundo sequer para gastar um único centavo desse dinheiro, pois Raimundo o encontra, prendendo-o com um laço. Tentando fugir, o Rastejador acaba perecendo nas patas fatais do cavalo “assombrado”. E Raimundo, como bom cangaceiro que é, devolve o dinheiro aos retirantes ludibriados.
A admiração de José Eduardo Cimó pelo trabalho de José Lanzelotti (e a minha também, desde que pude ler esse exemplar de Raimundo, O Cangaceiro), faz todo sentido. Em Raimundo, O Cangaceiro temos, além do roteiro muito bem elaborado, bem desenvolvido, da nobre preocupação em mostrar o personagem principal uma pessoa íntegra e de bons princípios (mesmo vivendo num meio de marginalidade), temos ainda os belíssimos desenhos de Lanzelotti, que, se não são muito ricos em paisagens, possui traço levemente renascentista. Uma beleza de se ver, uma obra-prima, como bem disse José Eduardo Cimó.


Há pouco tempo atrás, tive a honra e a alegria de ser abordado virtualmente por Jussara Lanzelotti, filha do autor de Raimundo, O Cangaceiro, e através desse agradabilíssimo contato (que ainda existe, Graças a Deus), através de fotos diversas postadas em seus perfis no orkut pude conhecer mais da obra desse artista que não atuava exclusivamente nos Quadrinhos, mas também um pintor de muito talento, e um artista plástico de mancheia, muito versátil e criativo. (JS)



BRETT CARSON & TOM TÉRIK em
OS GUERREIROS DE JOBAH



Por volta do ano de 1990, a Icea Gráfica e Editora (localizada na cidade paulista de Campinas), especializada em livros técnicos para agricultores, tentou atingir um público diverso daquele a quem estava acostumada a servir: investiu no mercado de Histórias-em-Quadrinhos, e esta tentativa, a despeito de terminar pouquíssimos anos depois, acabou resultando em alguns memoráveis gibis. Tivemos quatro números de Mephisto – Terror Negro (o título bem explica o gênero da revista); uma edição especial com histórias de guerra, chamada Platoon (aproveitando o sucesso da bomba de Oliver Stone, mas felizmente a revista é muito melhor); dois números do Raio Negro de Gedeone Malagola (com histórias escritas por Gedeone e ilustradas por seu filho Géderson – que não seguiu carreira nos Quadrinhos, optou pela engenharia e hoje é executivo de multi-nacional); e quatro números de uma coleção apresentando HQs de aventura, fantasia e ficção-científica, talvez a mais querida e lembrada dos vários fãs de HQ conquistados pela Icea: Os Guerreiros de Jobah.

O melhor de tudo foi que essa ousada decisão editorial da Icea de lançar Histórias-em-Quadrinhos não se limitou a republicação de material estrangeiro, mas a dar firme apoio e incentivo aos artistas brasileiros. O diretor artístico da Icea contratado para a linha de publicações em Quadrinhos foi o experiente Dagoberto Lemos, que conseguiu reunir grandes nomes do cenário nacional das agaquês: Gedeone Malagola, Julio Shimamoto, Elmano Silva, Eloir Carlos Nickel, Ofeliano de Almeida, Emir Ribeiro, Deodato Borges Filho (hoje conhecido mundo afora como Mike Deodato), Julio Emílio Braz, Luiz Antônio Aguiar e tantos outros. Além das memoráveis HQs produzidas especialmente para as publicações da Icea, os gibis tinham “alma de fanzine”, publicando contos, artigos sobre o mundo das HQs, apresentava perfis e biografias de artistas diversos. Particularmente inesquecível para mim foi o apaixonado artigo escrito por Dagoberto Lemos no primeiro número de Os Guerreiros de Jobah, explicando como a proibição das HQs do gênero terror nos EUA possibilitou o surgimento de uma notável geração de artistas brasileiros. E também foi Lemos quem ficou com a incumbência de criar um personagem que parecia ser o “carro-chefe” da coleção: Brett Carson. Mas foram somente duas as histórias com Brett Carson publicadas na vida editorial d’ Os Guerreiros de Jobah – isso porque Lemos deixou a direção artística da Icea após o número 2 (seu nome aparece ainda no expediente do número 3, mas só figurativamente). A aventura do primeiro número é chamada “Aventura No Centro Da Terra”, uma excelente história com narrativa de ação ininterrupta no melhor estilo do gênero aventura & ficção das tiras de jornais das décadas passadas, da chamada Golden Age (Era Dourada dos Quadrinhos), em especial a influência do Buck Rogers de Calkins e Nowlan. Logo na primeira página, Carson é apresentado como um arqueólogo das Nações Unidas, sofre uma queda enquanto praticava alpinismo e vai parar num estranho mundo subterrâneo onde há vários reinos que ainda não haviam tido contato com os países da superfície. Um destes reinos tem o sugestivo nome de Aquarius, que havia abolido a prática da guerra, mas pelo visto cedo demais, ou não entenderam isso os homens-macacos que os atacavam. Para enfrentar a ameaça invasora, os aquarianos vão pedir ajuda ao homem da superfície. Carson vai resolvendo as paradas na base do muque e da destreza, conseguindo resgatar a princesa de Aquarius e enfrentando um tirano da floresta no reino de Jobah. Pena que a aventura de Brett Carson no segundo número tenha despencado tanto no roteiro. O nome do personagem é grafado com dois “t” na capa do número 2, mas somente com um (Bret) na HQ do miolo, chamada “O Enigma De Linpha”. Tendo como referência a primeira aventura, esta segunda é muito devagar, quase parando, pouquíssima ação e muita conversa desnecessária. O roteirista Alvimar Pires dos Anjos sem dúvida já fez coisa muita muito melhor (e o fez nesta mesma coleção da Icea). E pena que aquele personagem parecido com Charles Bronson apareça somente na primeira página da segunda HQ, onde o herói Carson e seus aliados aquarianos se defrontam novamente contra o tirano de Jobah (que tem o simpático nome de Ranghor).
Quem substituiu Dagoberto Lemos na direção artística da Icea não merece ter seu nome citado, mas o personagem que substituiu Brett Carson nas páginas de Os Guerreiros de Jobah, este sim merece algumas palavras: Tom Térik, criado por Gedeone Malagola, tendo o paranaense Eloir Carlos Nickel a responsabilidade de dar vida a ele em sua primeira aventura (publicada no terceiro número da coleção, aquele que saiu com formato maior do que os demais): “O Ídolo Dos Sete Olhos”. Nota-se uma preocupação dos autores em criar, ao mesmo tempo, um personagem novo mas que não fugisse muito das características de seu antecessor. Assim como este, Tom Térik é um arqueólogo, e esta sua primeira aventura é tão movimentada quanto aquela de Brett Carson que vimos no primeiro número. Disposto a ajudar uma linda sacerdotisa, Térik parte em busca de um artefato místico-religioso, e nessa empreitada irá enfrentar toda sorte de perigos: felinos grotescos, serpentes gigantescas, guerreiros bárbaros, vampiros alados, desafios que enfrentará com seu vigor físico e sua espada – contando sempre com a ajuda da linda sacerdotisa Taiara. Pena que Gedeone tenha assinado somente esta aventura de Tom Térik: a despeito do talento de Nickel no traço, a história do segundo número saiu com o roteiro meio truncado, apesar da HQ “O Magnífico De Ur” apresentar alguns momentos divertidos. Os roteiristas desta segunda e derradeira história de Tom Térik optaram por narrar conto de magia e misticismo, deixando de lado a aventura.

Gedeone ainda mostrou nesta coleção de Os Guerreiros de Jobah (no segundo número), uma HQ escrita e ilustrada por ele mesmo, e que reconhecia como uma de suas favoritas: Ginóide, uma excelente narrativa futurista, que vai surpreender aqueles que conhecem o trabalho de Gedeone somente no Raio Negro. E ainda sobre Gedeone Malagola: em conversa reservada comigo revelou toda a admiração e amizade que teve não só com Dagoberto Lemos, mas também com o diretor geral da Icea, Gervásio Cavalcanti. Mestre Malagola me disse que os gibis da Icea vendiam bem, o que levou ao fim das atividades teria sido a leviandade e o desleixo de um influente funcionário lá dentro, que não entendia nada sobre e desprezava os Quadrinhos e seus artistas – e tampouco sabia tratar bem as pessoas, de modo geral. (JS)









JOÃO TYMBIRA EM REDOR DO BRASIL

Este blog pretende humildemente ser uma extensão para a informática do que representou para os fãs da HQB o Fã Zine n.18 - Heróis Nacionais, editado por José Eduardo Cimó em 1994. Claro, ainda falta muito para eu atingir tamanha honra. Mas é fato que os personagens sobre os quais comento por aqui, muitos eu só vim a conhecer pela curiosidade que me despertou a pesquisa do sr. Cimó. Além de me relembrar a memória afetiva, reavivando a lembrança de gibis que eu só conhecera no esquecido passado (época em que eu sequer me importava em saber se o artista do gibi era brasileiro ou não), o Fã Zine n. 18 me abriu os horizontes da HQB de forma então inusitada, apresentando personagens dos quais jamais ouvira falar, cuja existência eu desconhecia completamente! Vim a conhecer o Fã Zine tardiamente mas aqui estou, já há alguns anos pesquisando sobre os personagens que encontrei no Heróis Nacionais de José Eduardo Cimó (e espero que Deus me conceda saúde, forças e recursos para poder continuar esta pesquisa por muito tempo ainda). Confesso a vocês que, dentre os personagens brasileiros das HQs que vi no Fã Zine, alguns deles eu pensava que jamais viesse a conhecer, como por exemplo aquele que consta na página 103 do Fã Zine n.18: João Tymbira, de Francisco Acquarone. Mas felizmente eu estava enganado: graças a mais uma gentileza de meu querido amigo Espedicto Figueiredo, recebi de presente um fac-símile de ótima qualidade do exemplar único de João Tymbira Em Redor Do Brasil, e tive a chance de conhecer este notável personagem brasileiro das Histórias-em-Quadrinhos.
João Tymbira Em Redor Do Brasil foi lançado no ano de 1938, uma edição do Correio Universal, pelo preço de três mil réis (três mil e quinhentos, pelos correios), com 96 páginas no formato horizontal, apresentando duas tiras por página – muito provavelmente a edição traz coletânea do que havia sido publicado anteriormente nos jornais. Narra uma única história que é dividida em três partes. Na primeira delas, “Em Busca Do Roteiro Mysterioso”, o herói é apresentado sem delongas: “João Tymbira, forte e elegante, é carioca da gemma. Pratica todos os sports, até o foot-ball”.
E, acreditem, ele vai mesmo precisar de todas as habilidades de que dispuser, para enfrentar todos os perigos que enfrenta nesta aventura. Tudo começa a partir do momento em que o herói recebe uma carta de seu tio Gurgel, morador de Ouro Preto/MG, pedindo a presença do sobrinho após o falecimento do avô e recebimento de herança – herança da qual ninguém sabia muito bem o que era, pois o falecido avô havia deixado somente um misterioso mapa que, supunha-se, levaria a um “verdadeiro thezouro”. Do Rio de Janeiro a Ouro Preto é só a primeiríssima etapa da longa viagem Em Redor Do Brasil. Mal chega na região das Minas Gerais e percebe que o tio havia sido roubado por um vilão inescrupuloso com o sugestivo nome de Cascavel. Tymbira e seu amigo de infância, o índio Gorgulho, partem em busca do facínora percorrendo vastas regiões do território brasileiro. Ainda nesta primeira parte, passam pelos interiores de Minas Gerais e Bahia, sempre costeando o rio São Francisco. No caminho, salvam a bonita Rosinha de um grupo de cangaceiros sanguinários, comandados por alguém chamado Lampeão (com “e”, mesmo). As reviravoltas são incessantes, por vezes são os heróis que ficam à mercê dos bandidos, por vezes acontece o contrário. E o danado do Cascavel parece mesmo ser esguio, pois sempre consegue escapar. A primeira parte termina quando alcançam as cachoeiras de Paulo Afonso, ponto de partida para a segunda parte intitulada “Em Perigo Nos Ares E No Mar”. Da Bahia até Pernambuco, nosso herói faz jus a sua boa forma física: tentando resgatar Gorgulho e Rosinha, que haviam sido pegos pelos bandidos, João chega até a ficar pendurado numa corda amarrada num hidroavião. A aventura prossegue incessante pelo rio Jaguaribe, entre perseguições de barcos e jangadas, prontos para a terceira e mais emocionante parte desta aventura: “Entre Os Selvagens Da Amazônia”. Tymbira e amigos prosseguem na caça aos meliantes entre as florestas das regiões norte e centro-oeste. E claro que numa aventura como esta não poderiam faltar os índios (alguns amigáveis, outros nem tanto).

João Tymbira Em Redor Do Brasil é mesmo algo espetacular! Aventura frenética inspirada nos formidáveis personagens que eram lidos e adorados no mundo inteiro na época, mesmo visualmente o personagem principal é parecido com o Flash Gordon, com o Brick Bradford, ou o Red Barry. Ok, agora poderia intervir algum sexagenário comunista teórico de Quadrinhos e dizer que “não basta uma HQ apresentar cenários brasileiros, que se trata de uma verdadeira HQ brasileira!”. Se por um lado é certo que João Tymbira apresenta um estilo estadunidense de se contar uma História-em-Quadrinho, traz consigo uma brasilidade sublime, tão contagiante que nem mesmo os mofados cérebros guevaristas iriam resistir. E tamanha brasilidade é, na modesta opinião deste que vos escreve, o grande diferencial de João Tymbira. O autor Acquarone apresenta um riquíssimo painel da vida brasileira em diferentes regiões, e, sem jamais descuidar do lado aventuresco e de entretenimento que uma HQ deve apresentar a seus leitores, não se esquece de abordar temas históricos, geográficos, botânicos e antropológicos. E João Tymbira é um herói como deve ser, um bom exemplo para seus leitores, especialmente para os mais jovens que estão formando suas opiniões sobre as coisas da vida. Além de cuidar bem da saúde, é a favor do estado de direito e está sempre disposto a ajudar os outros, independente de cor, raça, etc. Como podem perceber, um tipo absolutamente inviável nesses dias de “relativismo moral”. Por mim, João Tymbira Em Redor Do Brasil deveria ser distribuído maciçamente nas escolas públicas, o que certamente seria muito mais saudável do que a atual e degradante doutrina marxista-gramsciana. Mas quem iria dar importância a um reacionário paranóico como eu, não é mesmo?

Só depois de publicar João Tymbira Em Redor Do Brasil é que os responsáveis pelo Correio Universal, o casal Manoel e Helena Ferraz (ela que assinava no expediente com o pseudônimo de “Álvaro Armando”) iriam se dedicar (como roteiristas, assinando “Francisco Armond”), com inestimável ajuda do artista Renato Silva, a magistral obra-prima da HQ brasileira: A Garra Cinzenta. (JS)

5 comentários:

  1. Muito interessante José Salles,

    Eu pesquiso muito na internet atrás desses personagens desenhados por brasileiros como Walmir Amaral e ou artistas estrangeiros naturalizados, como Zalla e Colonnese. Só para recordar de personagens como O vingador e Juvêncio, o Justiceiro,que curtia na minha adolescência. Você não tem material desses dois por acaso?

    Parabéns.

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  2. Olá colega, desculpe a grande demora em responder, fiquei um tempão sem acessar este blog. Futuramente vc verá algo tanto sobre Juvêncio, quanto do Vingador. abs

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  3. Muito bom o blog, excelente trabalho de pesquisa e que continue trazendo boas postagens como as já feitas neste espaço!!! Abraços, Wilson

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  4. Parabéns, ano passado ganhei a edição de um aluno, Fantar 2, e não sabia nada sobre ele. tenho um blog sobre gibis, e vou adicionar o seu. www.gibiblioteca.blogspot.com

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  5. Salles, parabéns pelo blog, e pelo sensacional levantamento que vc fez sobre as HQs nacionais!
    E, grato, por relembrar meus personagens!
    A batalha continua, guerreiro!
    Boas Festas!

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